As leituras de sistemas de inovação envolvem observar o conjunto de organizações, arcabouço regulatório (leis e incentivos) e articulações existentes entre os participantes “atores” da academia, das empresas e do Poder Público.
O grau de articulação é o principal indicador da qualidade do mesmo, e os projetos, o produto da relação. No Brasil, nos últimos anos, o Sistema de Inovação teve fortes avanços, com o fortalecimento institucional e qualificação organizacional. O desdobramento migrou para os estados, que desenvolveram instrumentais para ciência, tecnologia e inovação, inclusive com leis específicas alinhadas com os recursos disponíveis.
Todavia, dada a existência de organizações avançadas, com competência e agregação dos melhores quadros, estas direcionam os rumos das pesquisas, enfraquecendo a condição de coordenação do Sistema, e por consequência impõe resistência em determinar os caminhos prioritários. Assim, abriu-se um gap de coordenação, o qual somente pode ser preenchido com instrumentos adequados, ou seja, recursos para estimular os esforços de pesquisa e desenvolvimento.
Como referência, o caso francês dos polos de competitividade torna-se uma ferramenta desejável, visto que permite a coordenação setorial e territorial da pesquisa. Este território é organizado pelo lado da demanda, com a articulação entre a academia e as empresas.
Observa-se visão similar no recente lançamento das plataformas de conhecimento pelo governo brasileiro, que adota como principal componente o atendimento de demandas de interesse do País em áreas consideradas estratégicas.
Para alcançar êxito, são impulsionadas as parcerias entre as principais instituições para articular o desenvolvimento científico e tecnológico em áreas de reconhecida importância, como saúde, energia e tecnologia da informação.
Dada a tradicional centralização da pesquisa no País, o desenvolvimento territorial não é prioridade, mas, sim, a excelência do desenvolvimento dos segmentos, aproveitando o estoque de conhecimentos já existente e provocando a importação de recursos humanos de qualidade.
Em escala setorial, processo parecido aconteceu com as empresas do setor farmacêutico no País, que foram impulsionadas a gerar conhecimento novo no segmento de biossimilares, os quais são medicamentos com células vivas, precisando para tal absorver conhecimentos externos e competências complementares que resultaram em consórcios de empresas do segmento.
Como adendo à discussão, cabe assinalar que talvez a iniciativa das plataformas ganharia maior densidade caso resultasse das discussões do código nacional de ciência, tecnologia e inovação, que ainda tramita sem a conclusão.
Devanildo Damião é mestre e doutor em gestão tecnológica – USP; coordenador do Núcleo PGT-USP e Coordenador Especial Técnico Científico da AGENDE.