Executivos já visualizam sinais melhores para segundo semestre.
Um começo de retomada da confiança e sinais de que o Brasil pode ter uma segunda metade de ano um pouco melhor, com ajuda também da taxa de câmbio e da retomada do programa de concessões de infraestrutura. Este é o resumo do sentimento de alguns dos executivos mais importantes do país, reunidos ontem dia 25 de maio na cerimônia de premiação do “Executivo de Valor”. A visão não é unânime e vem cercada de ressalvas. Os executivos elogiam o ajuste fiscal em curso e dizem que ele é precondição para a volta da confiança.
“Vejo todo esforço do governo neste momento para criar um verdadeiro superávit primário como solução, não como problema. Vejo como problema os desvios que tivemos anteriormente” afirmou Roberto Setubal, presidente da Itaú Unibanco Holding. A confiança começa a ser restabelecida, disse elem e crescerá na proporção em que as medidas forem implementadas. Setubal tem uma visão mais positiva para o segundo semestre. “Tanto para o Brasil quanto para o banco”, disse, questionado se a segunda metade do ano seria melhor. “A tendência é muito melhor porque a gente já está em fase de recuperação”.
Apesar do momento difícil no mercado de veículos, com queda de dois dígitos tanto no consumo como na produção das montadoras, o presidente da Fiat Chrysler Automobiles (FCA) na América Latina, Cledorvino Belini, acredita que o setor vai sentir os primeiros sinais de reação no fim deste ano.
O executivo lembre que, historicamente, o segundo semestre é melhor que o primeiro, ao justificar o otimismo sobre as vendas de automóveis na reta final de 2015. Ele diz que ninguém esperava um “freio” tão forte na economia, mas manifestou confiança na recuperação gradual do mercado automotivo à medida que melhorem as expectativas do consumidos sobre os rumos da economia. Apesar do cenário adverso, Belini diz que a montadora mantém os investimentos – que prevê em R$15 bilhões entre 2013 e 2016 – porque seus objetivos são de longo prazo. “Mantivemos nosso plano de investimento porque o potencial do mercado brasileiro no médio e longo prazo é invejável”.
A redução da incerteza deve favorecer um ambiente melhor para a atividade econômica, avaliou o presidente da CPFL, Wilson Ferreira Jr. “Enquanto há dúvidas sobre as medidas de ajuste, o brasileiro fica mais desconfiado. Mas acredito que, nos próximos dias, com o ajuste aprovado, teremos a superação deste momento de concepção das medidas de ajuste fiscal.” Para Ferreira Jr., os sinais dados pelo ajuste proposto pelo governo são muito positivos porque contribuem para resgatar a confiança na seriedade da gestão do país. A CPFL deve elevar investimentos em 2015 em 46,6%, para R$1,557 bilhão, na comparação com os R$1,062 bilhão de 2014, concentrados principalmente na área de distribuição de energia.
A desvalorização da taxa câmbio e os preços mais favoráveis de celulose no mercado internacional fazem com que Walter Schalka, diretor-presidente da Suzano Papel e Celulose, projeto um ano bastante positivo para a empresa, “o que até parece contraditório com o momento que o Brasil vive”. Para ele, o primeiro trimestre foi “ótimo” por causa de condições mais favoráveis de preço. A expectativa é de um segundo semestre ainda melhor. “Temos nos beneficiado desse ambiente mais adequado para nossa indústria.” Em 2015, a Suzano deve investir R$1,5 bilhão, dos quais R$1,1 bilhão serão direcionados para a manutenção da capacidade das florestas.
O presidente da Porto Seguro, Fabio Luchetti, vê horizonte melhor no fim do ano.” Acreditamos que 2015 será um pouco mais morno e os negócios devem começar a se recuperar de maneira mais expressiva no quarto trimestre do ano, quando as mudanças já estarão em pleno vigor e os empresários já poderão ter dimensionado os impactos e voltarão a investir”, afirmou Luchetti. O executivo disse que vai manter os investimentos planejados, em especial os de longo prazo, relacionados à perenidade da companhia.
Líbano Barros, presidente da Via Varejo Também vê este ano como “desafiado”, mas se mostra otimista. “Acreditamos que o segundo semestre será mais promissor para o varejo”, disse ele. A conjuntura importa para a decisão de investimentos, observou, mas ele afirmou que o planejamento da companhia é de longo prazo e que o plano de investimentos tem sido cumprido.
Os ajustes fiscais que estão sendo implementados pelo governo representam um bom começo para que o país recupere confiança de agentes econômicos locais e internacionais, mas as medidas podem ainda não ser suficientes para consolidar uma nova etapa de expansão, apontou o presidente da GVT, Amos Genish, que no dia 28 deste mês assumirá o cargo de diretor-geral presidente da Telefónica Brasil.
“A chave para o retorno do investimento estrangeiro [ao Brasil] também passa pela construção de uma relação de confiança com investidores e consumidores, um plano de ação claro para os ajustes”, afirma. Ele já enxerga sinais que sugerem uma tendência positiva para o segundo semestre: citou o apetite dos consumidores por smartphones e o uso crescente de dados.
A Totvs não pisou no freio. “Ao contrário. Investimos nos últimos cinco anos mais de R$953 milhões em pesquisa e desenvolvimento”, disse o presidente da empresa, Laércio Cosentino.
Na contramão, Márcio Utsch, presidente da Alpargatas, não vê um quadro alvissareiro no segundo semestre. “ O setor vai cair e o mercado interno já está reduzindo”, diz o empresário. “Os investimentos estão congelados. Estamos apenas concluindo o que já estava aprovado.” Ainda assim, o executivo disse que a Alpargatas deve crescer em 2015 com a venda de produtos de menor valor agregado.
Outro segmento que ainda não se convence da percepção de que dias melhores virão é o de máquinas e equipamentos. Em meio à fraca atividade econômica, a fabricante de motores elétricos e equipamentos para automação industrial WEG deu prioridade a China e México. Para o Brasil, Harry Shmelzer Jr., presidente da empresa, acredita que as perspectivas não são positivas.
Fonte: Valor Econômico
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