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Juros - a necessidade de uma sintonia fina
É importante frisar que o Brasil pratica uma das maiores taxas


Devanildo Damião*

Juros refletem o valor atribuído a liquidez da moeda, assim são indicadores de valorização do dinheiro do valor presente em relação ao futuro. Na prática significa um prêmio ao detentor presente de riqueza. Eles são importantes instrumentos para regular as práticas comerciais na sociedade.
Como instrumento da economia (macro) ele permite regular o nível de aquecimento da economia e da inflação em determinado espaço, sendo assim, quando os juros são baixos, a oferta de crédito é maior e leva mais pessoas ao consumo, permitindo o crescimento da economia.
De forma inversa, quando os juros são altos, ele atua com o inibidor do consumo e existe uma desaceleração (evitando a inflação, por exemplo). O organismo responsável pela atribuição de juros no Brasil é o Banco Central que instrumentou a sua estrutura com o COMPOM - Comitê de Política Monetária, formado por técnicos que se reúnem para definir a Taxa básica de juros da economia, a Taxa SELIC.
Essa taxa é a referência, pois é o valor que o governo atribui para as transações com títulos públicos, ou seja, ele emite títulos para o mercado com essa taxa, que se torna a moeda para os empréstimos entre bancos, tornando-se o valor base ou primário. Com base nesses valores são calculados os juros de mercado, que são maiores devido aos valores de risco que os bancos atribuem para emprestar recursos.
Considerando esses fatores, fica mais nítida a relação dos juros com o crédito e com os custos e preços praticados, visto que o empresário para investir precisa de capital (dinheiro), para tal, ele vai tomar empréstimo que são remunerados por taxas de juros. Consequentemente, o custo da sua produção varia de acordo com as taxas de juros praticadas no mercado, que vai diretamente impactar na formação do seu preço.
Esse panorama é ilustrativo para verificar que a parte da economia real (produtiva) de um país, prefere juros baixos para aumentar a sua competitividade, sobretudo na concorrência externa. Em contrapartida, os atores financeiros que fazem intermediação de capitais preferem juros altos, pois permitem aumentar o valor atribuído ao crédito e aumentam as suas riquezas financeiras.
Decerto é importante frisar que o Brasil pratica uma das maiores taxas de juros reais do mundo, em outubro a taxa estipulada foi de 10,75% anuais. Esse aspecto diminui a competitividade da nossa indústria que concorre com produtos e serviços de países com taxas de juros menores e diminui as condições de fazer investimento, pois o custo do capital é muito grande, obrigando-a praticar preços mais altos.
Outro aspecto preocupante é a dívida pública que é remunerada pelos juros estipulados pelo governo, assim quando os juros estão altos, a dívida pública aumenta, sendo que no Brasil ela já ultrapassa 60% do Produto Interno Bruto (soma das riquezas do País), o Brasil deve encerrar 2010 com um PIB projetado de R$ 3,22 trilhões (o 8º maior do mundo).
Entende-se que o investimento produtivo deve ser privilegiado e que num momento de estabilidade econômica e controle inflacionário, é preciso aferir com maior audácia a sintonia de juros, com o objeto claro do desenvolvimento do País.

*Devanildo Damião - Doutor em gestão tecnológica pela USP, pesquisador do Núcleo PGT-USP, assessor da Agende de Guarulhos e professor da Unifig.



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