“Espera-se que as políticas observem cada segmento da indústria como um jogador talentoso”
Dr. Devanildo Damião
• Mestre e Doutor em Gestão Tecnológica - USP
• Pesquisador do Núcleo PGT - USP
• Coordenador do Núcleo Acadêmico da AGENDE - Agência de Desenvolvimento de Guarulhos
Para tratar o tema “desindustrialização”, cabe a definição do conceito, que se refere a um processo de enfraquecimento da indústria. Os elementos que possibilitam dimensionar esse aspecto estão relacionados à diminuição de empregos e a diminuição de sua participação na riqueza do País.
Para falar da indústria é importante frisar seu papel de complementaridade com outros segmentos. A indústria tem por princípio a transformação, que envolve o recebimento de determinado insumo (material), a aplicação de esforços (materiais humanos e financeiros) e apresenta como resultado um produto com valor agregado. Esse movimento gera riquezas e possibilita a distribuição por toda uma cadeia de valor. Muitas vezes, quando vejo uma discussão que diminui a importância da indústria, sou tentado a fazer uma provocação: acabe imediatamente com a indústria e comece a contar de 10 em 10 os 100 dias finais dos segmentos de comércio e serviços.
No Brasil discute-se muito o processo de desindustrialização a partir dos anos 1990, mas existem fatores que merecem análise isolada para um debate de alternativas:
O aumento de produtividade dos trabalhadores com o emprego de técnicas de qualidade, racionalidade de tarefas e a incorporação de equipamentos para as suas atividades, impactando os indicadores de emprego de mão-de-obra; o aumento de aplicação de tecnologias, com o desenvolvimento de equipamentos que substituíram, em parte, a demanda de atividades manuais para desenvolver essas atividades. Assim, atividades que empregavam dezenas de trabalhadores foram limitadas à programação de equipamentos e de linhas de produção; a inovação gerencial, com a terceirização, levando as organizações a reterem somente as atividades fins, passando para empresas especializadas outras atividades como alimentação, segurança, limpeza etc, que são incorporados nos indicadores como serviços; os efeitos da globalização que aumentou a natureza e a amplitude de concorrência, incorporando diferentes níveis de produtividade e fatores micro e macros da economia.
Colocado esses aspectos, é importante frisar que os fatores macroeconômicos como câmbio valorizado e a falta de políticas industriais diminuem a competitividade da indústria nacional. Espera-se que as políticas públicas observem cada segmento de nossa indústria como um jogador talentoso, com características específicas, membro de uma equipe unida e que dispense um tratamento adequado para que no final a nossa equipe (indústria) esteja fortalecida e imbatível.