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Dicotomia entre gestão da qualidade e inovação

" Para você mudar a cor do cabelo não é preciso raspar a cabeça"

Dr. Devanildo Damião
• Mestre e Doutor em Gestão Tecnológica - USP
• Pesquisador do Núcleo PGT - USP
• Coordenador do Núcleo Acadêmico da AGENDE

No Brasil no início dos anos 90, ocorreu um movimento muito forte de incentivo aos programas de qualidade. Várias iniciativas de sensibilização das empresas e dos empresários ocorreram, e as certificações e práticas relacionadas à qualidade total e normatização dos processos fluíram num ritmo acelerado.
O pressuposto principal da qualidade é diminuir a variabilidade, visto que a qualidade é definida como a satisfação das expectativas dos clientes, e a expectativa é formada com base num padrão. Quanto menor a variação dos requisitos em relação ao padrão, maior a condição de se atingir a expectativa.
Esse processo revolucionou os processos empresariais, com a incorporação do conceito de clientes internos e a formação de modelos de qualidade em gestão. Buscou-se a excelência, e a qualidade deixou de ser um diferencial para tornar-se essencial para que as empresas permanecessem no mercado.
A ampla exposição dos benefícios da gestão da qualidade e o apoio do poder público elevaram a competitividade das empresas trazendo benefícios, envolvendo inclusive elementos comportamentais tratados em programas específicos como o Kaizen (boa mudança) e o de casa limpa (5 S ou Housekeeping).
Os conceitos, programas e sistemas de qualidade tornaram-se a lição de casa para as empresas competitivas, mas não garantiram novos produtos e mercados.
A globalização e a disseminação maciça de instrumentos de tecnologia da informação revolucionaram o modo de viver das pessoas, impactando as mudanças sociais e aumentando de forma exponencial a demanda por novos produtos e serviços.
As informações começaram a fluir num ritmo incessante. As empresas sentiram-se pressionadas a desenvolver processos e produtos novos, materializando a necessidade de inovação. Ficou evidente que somente ter processos controlados e seguir padrões não garantiriam a sustentabilidade de uma empresa.
O desafio do momento era aprender a fazer coisas novas. Nesse momento, apareceu dura lição: “a inovação tecnológica não é derivada de vontades espontâneas, mas, sobretudo, depende da sistematização e de gestão especializada”. Para tal, é preciso controlar os recursos, os insumos, os processos e os produtos.
Sendo assim, são necessários recursos humanos especializados, equipamentos adequados e processos bem definidos e alinhados. Assim, surgiu a discussão paradoxal de inovar, sem perder a padronização.
A resposta é simples: “para você mudar a cor do cabelo, não é necessário raspar totalmente a cabeça antes”, na essência, significa que a estrutura é o alicerce que permite qualificar as mudanças continuamente.  




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